sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Mary Poppins goes wild

É das coisas mais divertidas que a internet produziu nos últimos dias: a popular personagem do cinema Mary Poppins (Julie Andrews - homenageada na cerimónia dos Óscares) a cantar... death metal!
Não é preciso ser fã de rock pesado para apreciar esta original brincadeira. Uma brincadeira, diga-se, com pés e cabeça porque toda a sequência foi criada de raiz para conseguir uma sincronia eficaz entre os movimentos labiais, os bonecos animados dos músicos a tocar e a música propriamente dita (a música é uma versão hardcore da canção original do filme "Supercalifragilisticexpialidocious"). O efeito final - contraste entre o que é visto e escutado - está deveras muito bem conseguido.

Uma subversão musical e estética muito divertida (para entrar bem no fim-de-semana):

Nota: o autor desta montagem, Andy Rehfeldt, já tinha feito outras montagens "ao contrário": colou músicas da Disney a serem interpretadas por grupos de death metal como neste caso com os Slipknot.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Hitchcock e a sanita

Uma imagem de uma sanita e da respectiva descarga do autoclismo. Uma imagem aparentemente banal. Mas só nos dias de hoje, porque esta imagem tem 55 anos e quando surgiu pela primeira vez espantou - por incrível que pareça - o público.
Trata-se de um fotograma do filme "Psycho" (1960) de Alfred Hitchcock, oficialmente, a primeira vez em que surgiu no cinema uma imagem explícita de uma sanita no modo de descarga. Quase escandaloso para a época.

Trata-se do momento em que a personagem Marion Crane (interpretada por Janet Leigh) faz a descarga da sanita no Bates Motel. Naqueles anos o pudor público exigia que não se mostrassem estes actos de higiene mais íntima. Hitchcock, no seu peculiar estilo provocador, filmou várias vezes nos seus filmes cenas em casas de banho. Esta foi só a primeira. No fundo, era ao mesmo tempo um apontamento realista do seu cinema e uma nota de um certo sentido sarcástico que tanto caracterizava o cineasta.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Óscares 2015: Um rescaldo à pressa



Muitas vezes arrependo-me das horas perdidas de sono, mas é já um ritual com 20 anos ver em directo a cerimónia dos Óscares. E assim, em jeito resumido para não aborrecer os leitores, eis o meu balanço por tópicos:

-  O início da cerimónia foi razoavelmente bom com o apresentador Neil Patrick Harris a cantar uma tradicional canção de teatro musical sobre a magia do cinema. Os efeitos digitais dos cenários impressionaram (ou não fosse a produção deste evento exímia nos mais pequenos detalhes visuais).

- O reportório humorístico de Neil Patrick Harris foi pobre e o único momento realmente engraçado foi quando fez de Birdman e apareceu ao público só de cuecas e meias depois de ter passado pelo actor Miles Teller ("Whiplash") a tocar bateria e repreendeu-o (tal como no filme): "That's not my tempo!". 

- Momento particularmente saboroso o discurso de agradecimento do realizador polaco Pawel Pawlikowski ("Ida"): nem a orquestra calou o seu longo discurso e disse estar surpreendido porque fez um filme sobre "o silêncio e a contemplação" e acabou por ir parar ao "centro do ruído" (a cerimónia em si).

- O discurso final de Patricia Arquette foi pungente quando apelou a uma maior justiça e equidade entre homens e mulheres na indústria de Hollywood (e a respectiva reacção enérgica de Meryl Streep).

- Custa-me admitir mas rendo-me à evidência: Lady Gaga teve um magnífico momento musical interpretando (sem extravagâncias) um "medley" do clássico musical "Música no Coração". Emocionante e surpreendente tributo. Logo após o final da actuação Julie Andrews surge no palco agradecendo e abraçando Lady Gaga.


  - Forte pendor político e social no discurso de agradecimento de John Legend e Common pelo Óscar de Melhor Canção por "Selma". A interpretação da canção "Glory" fez chorar vários espectadores.

- Bom e divertido número musical a propósito da canção "Everything is Awesome" do filme de animação "LEGO Movie".

- A alegria quase histérica de Eddy Redmayne quando subiu ao palco pelo seu Óscar por "A Teoria de Tudo".

- O momento sempre especial e reverencial dos que já partiram do mundo do cinema ("In Memoriam").

- "Grand Budapeste Hotel" arrebatou as principais categorias técnicas e artísticas. Merecido.

- Finalmente a consagração de Julianne Moore e do compositor Alexander Desplat.

- Este ano não apareceu a diva Charlize Theron, logo, a noite teve menos encanto e beleza.

- Não se justifica a duração excessiva da cerimónia (quase 4 horas).

- É muito difícil aguentar a transmissão da SIC por causa dos constantes intervalos publicitários a cada 5 minutos!


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Luiz Pacheco - As entrevistas

Luiz Pacheco foi um provocador por natureza que soube como poucos espicaçar sem pudores o meio literário português, como quando inventou o “Neo-Abjeccionismo” para gozar com o Neo-Realismo (na altura vigente). Foi uma das personalidades mais insurrectas, marginais e criativas da literatura portuguesa do século XX (na esteira de Almada Negreiros e Mário Cesariny).
Pacheco foi um verdadeiro meteoro da escrita e da crítica, fulgurante espírito de sagaz mordacidade, capaz de descarnar as palavras da língua mãe como quem tosquia a lã de uma ovelha. 

Acaba de ser lançado um livro editado pela editora Tinta da China - "O Crocodilo Que Voa" - que compila as entrevistas (politicamente incorrectas) mais importantes que a comunicação social lhe fez durante os seus últimos anos de vida. Altamente recomendável.

No longínquo ano de 2007 foi realizado um documentário sobre a figura icónica de Luiz Pacheco e eu escrevi dois posts sobre o autor e o referido documentário: aqui e aqui.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Um massacre estilizado



6 de Dezembro de 1989. Um jovem armado entra na Escola Politécnica de Montreal (Canadá), uma instituição voltada para a formação de engenheiros. Aparentemente motivado pelo ódio às feministas, o jovem dispara com toda a calma do mundo contra estudantes (sobretudo mulheres), causando um massacre com o saldo de 14 mortes e dezenas de feridos. O ataque é resultado de um plano de anos e os alvos foram pré-escolhidos. Os eventos são contados a partir de três pontos de vista: o do atirador, que conta os seus motivos e culpa terceiros pela sua frustração, o de uma aluna chamada Valérie e o de seu amigo Jean-François. Apesar do filme retratar um acto sanguinário mostrando o homicídio de 14 mulheres e outras dezenas feridas, não deve ser visto apenas com esse olhar de filme de suspense clássico. É muito mais.

O realizador, Denis Villeneuve (47 anos) é sobretudo conhecido por ter realizado em 2013 o filme "Enemy" com a estrela Jake Gyllenhaal. A sua curta carreira começou em 1998 e em 2009 realiza o filme "Polytechnique" sobre o massacre real da escola politécnica canadiana. Filmado num preto e branco de grande contraste, com um trabalho de câmara em registo quase documental, "Polytechnique" é um magnífico pequeno filme (em duração) que segue as coordenadas estéticas de "Elephant" (2003) de Gus Van Sant (este sobre o massacre do Liceu de Columbine). A diferença é que no filme de Sant as cores eram fortes e intensas e o ritmo narrativo bastante mais lento; no filme de Villeneuve o branco da neve contrasta com o escuro do sangue e dos corpos, a ambiência é estilizada e quase (por vezes) onírica, a violência não é gratuita nem explícita. Mas o horror está estampado no rosto do jovem assassino atormentado e no dos colegas que persegue e mata.

"Polytechnique" é um belo exercício de estilo de Villeneuve, quase como se fosse Alain Resnais da fase "Hiroshima, Mon Amour" a filmar esta tragédia. A fotografia é esplêndida, os ângulos e planos originais, a montagem simples e eficaz, as metáforas visuais deveras sugestivas. E a música é de puro bom gosto que sabe acompanhar e sublinhar as imagens. Um filme que só agora vi e que considero uma pequena pérola do cinema independente contemporâneo.

Fica o trailer:

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Às vezes penso o mesmo


Saul Bass numa hora

Saul Bass, o génio das artes visuais que revolucionou os genéricos dos filmes durante quatro décadas. Alguns dos seus trabalhos são tão reconhecíveis e famosos como os próprios filmes de Hitchcock, Preminger ou Scorsese. Os genéricos de Bass são fortemente icónicos e seguem uma linha estética gráfica muito própria. 
Todos os "opening titles" estão compilados nesta montagem com filmes que vão de 1955 a 1995. A montagem tem a duração de 65 minutos, mas vale a pena ver nem que seja em fast forward.
 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A minha máscara

Hoje é Carnaval e seu eu tivesse de me disfarçar de alguma coisa só podia ser de Jack Skellington (protagonista de "O Estranho Mundo de Jack" de Tim Burton).

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A história da música industrial



Um dos géneros musicais mais radicais e revolucionários da segunda metade do século XX foi o industrial (que  muito me marcou na adolescência). A música industrial correspondia ao espírito mais insurrecto e alternativo dos músicos pouco satisfeitos com o rumo político e social da sociedade, muito ligada à arte, literatura e filosofia mais subversivas: desde Marquês de Sade a Nietzsche e Lautréamont, de William S. Burroughs a Philip K. Dick, do Surrealismo ao Futurismo. Nascida nos finais dos anos 1970, a música industrial conciliou uma grande fusão de tendências e estilos. Desde a música electrónica mais experimental e vanguardista (música concreta e electro-acústica), ao noise-rock, à energia da No-Wave e do Krautrock (rock vanguardista alemão).

Um dado novo veio revolucionar a cena musical: a música industrial socorre-se da parafernália mecânica e tecnológica das fábricas decadentes, própria das sociedades modernas. Ou seja, usa as ferramentas dessas fábricas como instrumentos musicais para fazer música: bidões metálicos, martelos pneumáticos, serras eléctricas, utensílios fabris diversos com efeitos sonoros originais, etc. A música industrial era ideologicamente pessimista, crítica da sociedade actual, avessa à fama e ao dinheiro. A sonoridade era compatível com estas características, com uns grupos mais radicais e extremos do que outros, mas todos com vontade de subverter as normas convencionais da música com muito ruído à mistura. Os músicos e bandas deste estilo preocupavam-se com a criação de sonoridades abrasivas, com efeito de choque sonoro imediato, de grande e extrema amplitude estética.


Grupos como Throbbing Gristle (na imagem), Cabaret Voltaire, SPK, Test Dept, Click Click, NON / Boyd Rice, Clock DVA, Z'EV, In The Nursery ou Klinik definiram um género de culto que só teria decréscimo criativo a partir da segunda metade dos anos 90. Um grupo alemão irrompeu em força no panorama industrial nos anos 80: Einstürzende Neubauten, colectivo de músicos radicais liderados pelo carismático Blixa Bargeld. Tive a oportunidade de os ver ao vivo em Lisboa há 22 anos e foi uma experiência arrepiante (voltam agora para o próximo festival NOS Primavera Sound).

Tudo para dizer que agora surgiu, finalmente, um documentário que tenta explicar o nascimento e evolução deste peculiaríssimo e alternativo género de culto: "Industrial Soundtrack For The Urban Decay", no qual muitos dos nomes citados são entrevistados. 

Eis o trailer.
E eis uma brevíssima e concisa explicação do que é a música industrial.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O amor infeliz nos filmes

Filmes românticos e previsíveis para o Dia de São Valentim? Bah! Mais vale quebrar as regras e dar uma olhadela a grandes filmes que mostram relacionamentos com finais infelizes. Isto porque o amor também pode acarretar uma forte dose de sofrimento e tristeza. É o que o crítico de cinema Eurico de Barros conta na lista de elaborou com "12 filmes de Amor Com Finais Infelizes". E que filmes! 
Abrir aqui.

Discos que mudam uma vida #201

The Chemical Brothers - "Dig Your Own Hole" (1997)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

James Dean e Dennis Stock

Dennis Stock (1928 - 2010) foi um importante fotógrafo da prestigiada agência Magnum e da revista Life que fotografou algumas das figuras mais fulgurantes do cinema, da música e do espectáculo da segunda metade do século XX. Foi amigo pessoal de James Dean e é dele uma das fotografias mais célebres e icónicas do actor - aquela em que se vê Dean a passear debaixo da chuva em Times Square (Nova Iorque, 1955).

Acontece que o realizador Anton Corbijn ("Control") fez um filme intitulado "Life" no qual retrata a amizade entre Dennis Stock e James Dean. Robert Pattinson interpreta o fotógrafo, enquanto que Dane DeHaan encarna o mítico actor falecido aos 24 anos vítima de acidente de automóvel. Apesar de ainda não haver trailer do filme, já se especula pela internet acerca da forma como Corbijn terá retratado a relação entre ambos no grande ecrã (a única imagem que se conhece do filme é esta).

Enquanto esperamos pelo filme, deleitemo-nos com as maravilhosas fotografias de Stock (ordem): 
- Dennis Stock e James Dean
- Audrey Hepburn
- James Dean em Times Square
- James Dean
- Miles Davis

O que diz Tarkovski #18

"O meu filme 'Stalker' parece ser fraco mas, na sua essência, é ele quem é invencível devido à sua fé e ao seu desejo de servir os outros. Em última instância, o artista é aquele que se dedica à sua profissão não com o intuito de contar alguma coisa a alguém, mas como uma afirmação da sua vontade de servir as pessoas."

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Eisenstein por Greenaway


Eis uma extraordinária novidade do cinema: vai estrear este ano o novo filme do exuberante realizador Peter Greenaway. Mas não é tudo. Desta vez, ao que parece, o cineasta colocou de lado a sua veia estética barroca e visualmente excessiva para se concentrar na experiência que o realizador russo Sergei Eisenstein teve no México, em 1930, durante 10 dias, para filmar o documentário "Que Viva México!" sobre o Dia dos Mortos. Promete. 

Eis o trailer:

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O assombroso Benjamin Clementine


Poucas coisas me dão mais prazer na vida do que descobrir um novo talento musical. Enche-me a alma. Regozijo-me com a descoberta de músicas e compositores/bandas que me desconcertem pela qualidade musical, pelo brilhantismo interpretativo ou pela originalidade.
É o caso recente do músico, cantor e compositor inglês Benjamin Clementine. Li recentemente uma crítica no jornal Público sobre este jovem de 26 anos e suscitou-me interesse. Parti à descoberta e foi fascínio logo à primeira audição. Benjamim Clementine é um portentoso cantor de apenas 26 anos que aprendeu sozinho a tocar piano e guitarra a partir dos 11. Em 2008, com 18 anos, resolve ir para Paris onde tocou durante alguns anos no metro, nos bares e hotéis até que um agente atento reparou no seu inato talento.

Desde aí gravou um EP e um álbum que acaba de ser editado. Já tocou no prestigiado Montreux Jazz Festival e já foi ao popular programa televisivo Jools Holland (BBC). A sua ascensão e reconhecimento estão a crescer progressivamente e não é para menos. A qualidade das composições de Benjamin são peças de ourivesaria de grande quilate. Ele próprio diz que o seu estilo musical expressionista foi influenciado por gente tão díspar como Tom Waits, Edith Piaf, Nina Simone (há que diga que é a versão masculina desta cantora), Scott Walker (quando canta no registo grave) e Erik Satie, Wim Mertens e Philip Glass no piano. A sua voz cristalina, versátil de acentuado timbre doce, arrepia pela intensidade e profundidade. As suas composições são todas de uma beleza e intensidade arrebatadoras, próprias de alguém com uma inspiração cheia de soul.


Clementine canta de forma pouco ortodoxa, soltando as frases rápidas ou lentas de forma surpreendente, com total controlo rítmico e melódico. As letras das suas canções são cuidadas e poeticamente sentidas. O seu poeta de eleição é o inglês William Blake. E nem se coíbe de fazer versões desconcertantes de grandes clássicos como "Voodoo Child" de Jimi Hendrix (aqui). Cultiva uma atitude dandy e subversiva que aprecio: dá concertos ao piano com os pés descalços, vestido com um casaco sem camisola por dentro e sentado no banco de forma quase vertical (contrariando o que as normas indicam). Ainda é cedo para confirmar se Clementine é um génio, mas a continuar a sua carreira como a começou vai tornar-se, de certeza absoluta, num dos grandes músicos e cantores do século XXI.

O seu álbum "At Least For Now" é já, quanto a mim, um disco que irá marcar 2015.

"I am an expressionist; I sing what I say, I say what I feel and i feel what I play by honesty and none other but honesty. Some will get bored of me, but I invite the patient listener to come forth, feel and most importantly engage with me without asking too many questions. Hopefully by the end of listening they shall get answers not questionable, wether pleasing or not."
Benjamin Clementine

Aqui deixo três obras-primas musicais em formato canção deste extraordinário songwriter:
Sugiro fortemente que vejam e oiçam esta mesma canção "Nemesis" numa magnífica versão a solo com Benjamin Clementine ao piano. Reparem na entrega emocional ao tema e como ele o termina. Aqui.

Animais de estimação

Animais de estimação e artistas:

O actor Peter Lorre
O escritor Truman Capote

A actriz Joan Crawford
O pianista Glenn Gould
A cantora jazz Billie Holiday
A actriz Audrey Hepburn

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Philip Glass no telemóvel

Não sei se este blogue tem muitos leitores fãs do compositor Philip Glass. Eu sou. Por isso fiquei muito contente com a notícia de que já está disponível na Apple Store uma aplicação com músicas de Glass para telemóveis. Intitula-se apropriadamente "Official Philip Glass Ringtones" e contém 22 melodias de obras tão emblemáticas como "Koyaanisqatsi" ou "Einstein on the Beach". 
Brevemente estará também disponível para a plataforma Android (via Google Play Store). É gratuita.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Béla Tarr 'felliniano'

É a cena mais 'felliniana' do cinema austero de Béla Tarr. Tem apenas um minuto e passa-se no belíssimo filme "O Homem de Londres" (2007): um pai e uma filha estão ao balcão de um bar. De fundo ouve-se música de um acordeão. O espetador não sabe de onde vem. O pai e a filha saem do bar e a câmara move-se até ficar num plano fixo que mostra, com surpresa, que o isntrumento que se julgava ser apenas "soundtrack" é, afinal, visível no ecrã por uma tocadora de acordeão. Mas não é tudo. 
A cena é 'felliniana' porque mostra sobretudo dois homens a dançar de forma quase circense. Um, equilibrando uma bola de bilhar no nariz e o outro com uma cadeira nas mãos a dançar. Todo este magnífico momento (movimento de câmara, música de acordeão e os velhos a dançar) é revelador do imenso talento visual e estético do realizador húngaro (e algum cinéfilo que teve a mesma feliz percepção publicou esta sequência no Youtube).

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Hawking e Williams

Gosto de ler biografias. E autobiografias. Neste caso, são duas biografias sobre duas ilustres figuras da ciência e das artes: o cientista Stephen Hawking e o actor Robin Williams
O primeiro ainda é vivo (tem 70 anos), está confinado a uma cadeira de rodas derivado da sua doença degenerativa, é dono de um cérebro ímpar na investigação científica da segunda metade do século XX. O segundo é um actor que deslumbrou gerações, fez rir e fez chorar em igual medida, um apaixonado pela sua superlativa arte de representar. Suicidou-se em Agosto de 2014.
  
Sobre a vida e obra de Stephen Hawking já existe o filme "A Teoria de Tudo", candidato aos Óscares. Sobre Robin Williams ainda não há filme (biopic), mas não duvido que será uma questão de tempo até que tal aconteça. Enquanto isso, leiamos o livro (ambos à venda nas livrarias habituais).


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Beatles ou Kraftwerk?

O site Flavorwire lançou uma pergunta: "São os Kraftwerk mais importantes do que os Beatles?

As respostas nas redes sociais, para todos os gostos, não se fizeram esperar: houve quem afirmasse que os Beatles eram "indiscutivelmente" os mais importantes. Outros que seria a banda alemã porque "criou um género musical". Outros ainda disseram que era difícil responder porque era como comparar uma "maçã com uma laranja".

Ora, na minha humilde opinião esta é daquelas perguntas meramente retóricas que não abonam a favor de uma reflexão séria e objectiva. Primeiro, era preciso saber o que significa "mais importante": em qualidade musical? Em influência? Em discos vendidos? Em número de fãs? (só uma curiosidade: numa pesquisa no Google os Beatles têm 117 milhões de resultados e os Kraftwerk têm apenas 15 milhões).

Segundo, porque ambos foram muito importantes e influentes na evolução da história da música popular da segunda metade do século XX: os Beatles foram um meteoro inovador no pop-rock e criaram o primeiro fenómeno de fama à escala planetária. Os Kraftwerk constituíram um dos projectos de música electrónica mais influentes dos anos 70 e 80. Ou seja, no meu ponto de vista, cada um destes nomes foi importante à sua dimensão e registo. Nunca arriscaria afirmar que este ou aquele "foi o mais importante".

É o mesmo que perguntar:

"São os Joy Division mais importantes do que os Sex Pistols?"
"São os Rolling Stones mais importantes do que Bob Dylan?"
"São os The Doors mais importantes do que os Velvet Underground?"
"São os Public Enemy mais importantes do que Frank Zappa?" 

Etc, etc...