domingo, 28 de setembro de 2014

Vasconcelos




António-Pedro Vasconcelos é um veterano do cinema português. Tem, indubitavelmente, uma sólida formação cinéfila e conhecimentos teóricos e práticos sobre o cinema, tanto mais que contactou directamente nos anos 60 com inúmeros realizadores da Nova Vaga francesa. 
Nesta entrevista que deu ao site C7nema, Vasconcelos explica como foi o seu percurso no cinema, a sua experiência decisiva em Paris e explana as suas opinões sobre o cinema português. Percebe-se, pelo que diz, que existem muitos ódios no pequeno circuito do cinema nacional e que ele se sente um bom exemplo de um "autor com público". 
António-Pedro Vasconcelos aproveita também para destilar veneno - coisa que já se sabia - contra a crítica de cinema portuguesa, que acusa de analfabeta e indigente. Uma opinião certamente controversa e que só alimenta o ódio entre o realizador e a crítica (já o público, ficará dividido entre ambos).

Repare-se no que Vasconcelos diz:

A crítica em Portugal é uma lástima, condicionada por preconceitos, nomeadamente esse, de que o quem tem público não faz cinema de autor, a não ser no caso do caso do cinema americano. Se for americano já aceitam. Pode não gostar do Spielberg, ou do Kubrick, mas eram autores. Eles têm público. Essa ideia foi letal para o cinema português e a crítica embarcou nisto completamente. O Truffaut e o Godard, quando eram críticos, tinham toda uma visão do mundo. Aqui em Portugal, além de não terem nada disto, não fazem ideia do que estão a falar. Como costumo dizer, não sabem distinguir um travelling de um ovo estrelado. Assim como o cinema português não cria nenhuma empatia com o público, os críticos de cá também não o fazem. Não servem de guia para os espetadores.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os olhos em Hitchcock

Alfred Hitchcock filmou como ninguém as expressões faciais dos seus actores. Mais em particular: filmou como ninguém os seus olhos. Olhos abertos que nunca pestanejam, olhos vivos de espanto, de angústia ou de medo. Esta curta montagem é reveladora de alguns olhares mais carismáticos do cinema de Hitchcock:
 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Filmes que dizem que viram (mas mentem)



Quem nunca disse que viu um filme sem o ter realmente visto, que atire a primeira pedra. Em qualquer conversa sobre cinema pode vir à baila um determinado filme (por norma, clássico) supostamente famoso que "toda a gente já viu". Mas a verdade é que não é bem assim e, para não se ficar inferiorizado e dar má figura cultural de si próprio, a tendência é dizer que já se viu.
Ora, a revista de cinema espanhola Cinemania publicou uma sondagem na qual revela 10 filmes que as pessoas costumam dizer que já viram mas, na verdade, mentem.

Eis a lista com a respectiva percentagem de mentirosos:

1. "O Padrinho" (30%)
2. "Casablanca" (13%)
3. "Taxi Driver" (11%)
4. "2001: Odisseia no Espaço" (9%)
5. "Reservoir Dogs" (8%)
6. "This is Spinal Tap" (7%)
7. "Apocalypse Now" (6%)
8. "Goodfellas" (5%)
9. "Blade Runner" (5%)
10. "A Grande Evasão" (4%) 

Conclusão: ninguém que se diga amante de cinema pode ousar dizer que nunca viu nenhum destes clássicos (daí a mentira forçada).Deduzo, igualmente, que esta sondagem tenha sido feita a jovens.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O poder da linha de baixo

Que tal uma história da música a partir de riffs famosos de canções famosas de todas as épocas? São 100 canções tocadas em apenas 17 minutos. Só para quem sabe. 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Suicide, por Anna Calvi

O álbum "Suicide" (1977) dos Suicide (duo constituído por Alan Vega e Martin Rev) foi uma autêntica pedrada no charco no panorama musical da década de 1970. Ainda com o espírito do punk presente, os Suicide revolucionaram com a sua estética sonora densa (fundindo rock com electrónica à base de um órgão distorcido e ritmos minimalistas), e influenciaram muitos músicos e bandas das décadas seguintes. Eu tenho o disco em vinil religiosamente guardado e na altura em que o ouvi pela primeira vez foi um autêntico choque (pela positiva).
Ao longo dos anos muitos músicos assumiram a influência do disco e outros fizeram versões dos seus temas. Recentemente, foi a guitarrista e cantora Anna Calvi que fez uma das melhores versões que já ouvi do clássico "Ghost Rider" (o original pode ser ouvido aqui). 
Anna Calvi soube captar a essência da música e conseguiu, na perfeição, ser criativa na solução sonora que encontrou para a nova roupagem.
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NOTA: Em 2005 entrevistei o membro dos Suicide, Martin Rev, para a revista Mondo Bizarre. Quem quiser ler, entre aqui.
 

domingo, 21 de setembro de 2014

A inspiração de Jackson Pollock

Bela curta-metragem de animação sobre o tema da inspiração na arte tendo como protagonista o pintor expressionista abstracto, Jackson Pollock.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Tarkovsky: pai e filho

A relação e influência que a poesia de Arsenii Tartkovsky teve junto do seu filho realizador Andrei. Livro sobre poesia e cinema, duas artes maiores e centrais no universo tarkovskiano, numa edição acabada de editar e à venda na Amazon. 
Imperdível.


A propósito da poesia de Arseni Tarkovsky, descobri uma entrevista realizada pelo jornal espanhol ABC (2002) à irmã do cineasta russo, Marina Tarkovskaia, na qual aborda a poesia do pai e a relação com os filmes do irmão. Nas duas perguntas sobre a poesia do pai e a sua relação com a arte cinematográfica do irmão, Marina diz isto:

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Desconhecia a poesia do seu pai. Pode falar-me dela?
Marina Tarkovskaia: Desde pequeno, Andrei e eu conhecíamos a poesia do meu pai, ainda que no regime soviético não se podia publicar os seus poemas porque ele não elogiava o partido Comunista nem Estaline. O seu primeiro livro devia ter sido publicado depois da segunda Grande Guerra mas quando já estava pronto, o Partido Comunista proibiu a sua edição. Só em 1962, quando tinha 55 anos, o meu pai conseguiu editar um livro. Chamava-se "Antes Que a neve Caia". O curioso é que nesse mesmo ano o meu irmão Andrei ganhou em Veneza com "A Infância de Ivan". Comecei a a conhecer mais a fundo a sua poesia mais tarde, quando compreendi que era um grande poeta.

Quais são os principais temas poéticos que aborda o seu pai?
Marina Tarkovskaia: Os mesmos temas que o Andrei abordava nos seus filmes. Os mundos criativos dos dois estão entrecruzados ao longo dos anos. Não é nenhuma surpresa se a poesia do meu pai está incluída nos filmes do meu irmão, como é o caso de "Stalker", "Nostalgia" e "O Espelho". O tema central destes filmes é o conhecimento de si mesmo. O meu pai tem poemas muito belos que falam de patriotas e de patriotismo, mas não no sentido social e propagandístico na velha tradição da União Soviética, mas numa perspectiva cultural

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Woody e eu

Ao longo da minha vida, várias vezes as pessoas me disseram que era parecido com o Woody Allen. Tirei a prova dos nove e fiz um teste fotográfico para testar as parecenças físicas:

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Reagan e Charlie Parker?

O Pedro Mexia conta no seu último livro de crónicas, "Lei Seca", um episódio delicioso com o Tom Waits como protagonista: numa entrevista ao jornal "Observer", em 1984, tentaram pôr Tom Waits a comentar assuntos políticos, coisa que ele não aprecia. 
A resposta de Waits foi lacónica e desarmante: "Nunca pediriam a Ronald Reagan uma opinião sobre Charlie Parker, pois não?"

domingo, 14 de setembro de 2014

Já não há tempo nem paciência


Quando era novo tinha tempo para tudo. Não havia internet nem gadgets electrónicos. Nesse tempo, escrevia e recebia centenas de cartas com pessoas que partilhavam os mesmos interesses que eu: música, cinema e artes. Lia muito e via muitos filmes. E sempre me dediquei aos estudos. Aos 17, 18, 20 anos, ia ao cinema ver tudo: filmes bons, razoáveis e maus (era uma sofreguidão). Só em contacto com experiências artísticas boas e más é que formei o meu gosto cultural. E conversas, muitas conversas de partilha de conhecimento com amigos mais velhos e sabedores. Repito: num tempo sem internet.

Mas agora tenho 45 anos. E sinto que já não tenho tempo, nem paciência, para conhecer objectos culturais e artísticos superficiais que a sociedade de consumo nos impinge diariamente. Só tenho tempo para fruir o que é realmente muito bom. Ou, pelo menos, bom. Estou cada vez mais selectivo no que consumo culturalmente. Isto é, já não perco tempo a ver filmes que sei que, à partida, são fracassos ou medíocres. Nem ler livros que não sejam realmente muito bons. Ou ouvir discos que não me proporcionem prazer, que me surpreendam ou me inquietem o espírito. 

Ou seja, cheguei a uma fase da minha vida que não arrisco perder tempo com coisas fúteis ou até, minimamente, razoáveis. Numa era de avalanche de informação (e não de conhecimento), de uma oferta de livros nunca vista, de semanas de estreias com 10 filmes, de overdose de música na internet, há que saber distinguir a qualidade (cada vez mais escassa) do puro lixo ou do entretenimento disfarçado de cultura.

Tento concentrar-me no que realmente interessa e exijo o melhor: o grande cinema, a grande música, a grande literatura. Perguntam: e qual é o meu entendimento de "grande cinema", "grande música" e "grande literatura"? Bom, se acompanham há algum tempo este blog acho que já terei deixado algumas pistas. Seja como for, serão sempre aquelas manifestações que eu considero verdadeiramente de grande valor artístico e que estimulam o nosso intelecto e mudam a nossa vida (para melhor).

E é só com isto que eu quero concentrar-me para o resto da minha vida. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Música que se desintegra

Ainda a propósito do 11 de Setembro - este vídeo deve ser dos mais simples e belos momentos de homenagem aos mortos da tragédia: o compositor americano William Basinski filmou num único plano fixo, a partir do terraço do seu apartamento de Brooklyn, a enorme coluna de fumo proveniente dos destroços da torres gémeas. E filmou esta cena rigorosamente até o fumo ser obscurecido pelo anoitecer desse primeiro dia de horror.

Para musicar esta sequência filmada, Basinski utilizou as suas peças "Desintegration Loops" (são quatro peças), nas quais parece ouvir-se uma espécie de orquestra onírica e lânguida a desintegrar-se suavemente em câmara lenta. É uma banda sonora perfeita para o processo lento do fumo e do escurecimento do dia, como que servindo de elegia lírica e imortal à tragédia que assolou a América.
 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Hopper Now

"Apocalypse Now" foi dos filmes que mais me impressionou enquanto jovem espectador.  Sobre esse efeito que teve em mim já o referi neste post.
O que queria realçar é que das coisas que mais me impressionaram na obra-prima de Coppola - para além da história e da realização - foram as notáveis interpretações de Martin Sheen, Robert Duvall e Marlon Brando.
Mas a verdade é que há uma tendência para esquecer essa espantosa performance do "louco" fotógrafo interpretada pelo grande Dennis Hopper (ele que na vida real também foi um talentoso fotógrafo). Uma interpretação que surge apenas no último terço do filme mas que impressiona pela sua exuberância, energia e contundência. 
Hopper é um elemento que dá mais substância à loucura da guerra do Vietnam, complementando os delírios do inesquecível Coronel Kurtz (Marlon Brando).

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Cinema: imagens visuais

Como muito bem defende (aqui) o crítico de cinema Mark Cousins, o que faz evoluir a história do cinema é, essencialmente, a associação de ideias visuais. 
Reparem neste exemplo: três imagens de três filmes e épocas muito diferentes demonstram isso mesmo. 

Os filmes são (por ordem):
- "Nymphomaniac" (2013) de Lars Von Trier
- "The Virgin Spring" (1960) de Ingmar Bergman  
- "The Sacrifice" (1986) de Andrei Tarkovski


sábado, 6 de setembro de 2014

Woody Allen: enquanto espero...

Enquanto não vejo o último filme de Woody Allen, "Magia ao Luar", revi "Midnight in Paris" (2011) e reconfirmei: este filme é uma das melhores obras de Allen dos últimos 10 anos (ok, se somarmos também o fabuloso "Match Point" de 2006 e o mais recente "Blue Jasmine" de 2013).
Uma das melhores cenas - das muitas que o filme contém - é esta com três personagens artísticas históricas da vanguarda surrealista dos anos 1920: Salvador Dalí, Man Ray e Luis Buñuel. Adrien Brody é brilhante na pela de um irreverente Dalí, na forma como fala e nos seus devaneios imaginários.
Os diálogos deste sequência estão ao melhor nível do que Allen nos habituou, assim como a inteligência e a criatividade na forma como faz referências às obras dos próprios artistas, como é o caso do diálogo final entre Pender (Owen Wilson) e Luis Buñuel: aquele diz a este que lhe surgiu uma excelente ideia para um filme: "Um grupo de pessoas estão num jantar muito elegante e no fim do jantar tentam sair da sala mas não podem". Ao que Buñuel pergunta: "Não podem sair porquê?"

Ora, esta referência mais não é do que ao filme "O Anjo Exterminador" que Buñuel realizou em 1962. E não fica por aqui: Pender diz: "Talvez um dia ao barbear-se encontre a resposta". Mais uma referência ao filme surrealista "Un Chien Andalou" (1928) que tem a famosa cena do corte do olho com a lâmina de barbear. É este tipo de diálogos que torna este (como outros do mesmo realizador) filme num belíssimo tratado de escrita para cinema.  

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Reacções para todos os gostos

Não sou de falsas modéstias: gosto que os meus textos/posts tenham reacções positivas por parte dos leitores. Mas também aprecio quando os mesmos provocam reacções contraditórias. A pluralidade de opiniões é sempre positiva e salutar. 
Como previra, foi o que aconteceu com o post abaixo deste sobre o filme "Os Maias" do João Botelho: um leitor achou este post "Interessante", um outro "Fantástico" e, por fim, um leitor considerou "Desinteressante"

Preparem-se porque estas reacções extremadas vão continuar quando o filme estrear (não só da parte da crítica mas também do público).

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"Os Maias" no cinema

Depois de uma bem sucedida adaptação ao cinema da difícil obra literária "O Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa, o realizador João Botelho arrisca agora ainda mais ao adaptar - segundo consta, com total respeito pelo texto literário - uma das obras maiores da literatura portuguesa: "Os Maias" de Eça de Queirós. 
Pelo trailer, constata-se uma realização segura e uma boa recriação de época (com cenários assumidamente pintados) da Lisboa de final do século XIX. Mas certamente que não será um filme que irá agradar a todos, mas poderá confirmar-se como um marco do cinema português contemporâneo. 
 Estreia no dia 11 de Setembro. 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um musical desconhecido de David Lynch

Lá por me considerar um bom cinéfilo e seguidor da obra, por exemplo, de David Lynch, não quer dizer que conheça tudo o que já criou. Prova do que acabei de dizer (escrever) é que desconhecia por completo um musical de Lynch intitulado "Industrial Symphony Nº1: Dream of The Broken Hearted" (1989). Para minha surpresa, fiquei a saber hoje mesmo.
Trata-se de uma peça teatral-musical concebida quando o realizador filmava "Wild At Heart" nesse mesmo ano. Teve a sua estreia na Brooklyn Academy of Music em 1989 e a sua versão televisiva foi exibida em 1990, o mesmo ano da estreia da série "Twin Peaks".
Este musical, que em nada é um musical convencional (ou não se tratasse de uma obra de Lynch), baseia-se num conjunto de canções (ambiente cool-jazz nocturno) do compositor Angelo Badalamenti (que compôs para "Twin Peaks"), interpretadas por Julie Cruise (que cantou na banda sonora da mesma série). As letras são do próprio David Lynch.
Como seria de esperar, o universo visual e estético deste musical deve muito à criatividade bizarra e surreal que Lynch sempre demonstrou nos seus filmes. Aliás, ao longo da peça, vemos desfilar alguns dos seus actores, como Nicholas Cage e Laura Dern logo no início do musical.

Eis o registo integral de "Industrial Symphony Nº1: Dream of The Broken Hearted":