segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Almas silenciosas na Rússia

Há filmes assim: que surgem diante dos nossos olhos sem praticamente sabermos referências anteriores, como que vindos do nada. Surgem de rompante e deleito-me e espanto-me perante tamanha eloquência e beleza na simplicidade.
Neste caso, trata-se de um filme que nem sequer estreou comercialmente nas salas, vem de um país longínquo (Rússia) e de um realizador desconhecido (Alexei Fedorchenko). O filme tem o título poético "Silent Souls" e foi considerado um dos melhore filmes do festival de Veneza de 2010 (venceu o Grande Prémio do Júri do Festival).
Um homem pede ajuda a um amigo para uma cerimónia fúnebre da sua esposa morta segundo uma antiga tradição da cultura Meria, uma antiga tribo que vivia à beira do Mar Negro. Os dois homens, porém, não conseguem deixar que o sentimento de perda vença a batalha contra a tradição... 
O filme aborda a (in)capacidade de vencer a dor da morte e de vivenciar o luto em toda a sua plenitude. O realizador Alexei Fedorchenko constrói um mosaico de belas e silenciosas passagens emolduradas sob o frio tenebroso de uma Rússia em constante estado de mutação social. Memórias, passado e presente, vida e morte, solidão e amor, são alguns dos pilares desta obra.
Claramente imbuído da estética e sensibilidade russas, "Silent Souls" emerge como um belo manifesto sobre o sentido da vida à luz de uma cultura tão forte como a russa. Um filme cuja curta duração (75 minutos) é suficiente para transmitir sentimentos contraditórios e agridoces. Superiormente realizado e fotografado, com uma banda sonora belíssima, "Silent Souls" é um deleite visual que vive das mais profundas e genuínas emoções humanas.
Nota breve: Este filme teve em mim o mesmo impacto que outro belo filme russo: "O Regresso" (2003) de Andrei Zvyagintsev.
Trailer.

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