quinta-feira, 30 de junho de 2011

Transformers e a educação pelo cinema

O crítico João Lopes escreveu, no blogue Sound + Vision, o seguinte a propósito da estreia do filme "Transformers 3":

Como é que um espectador formado (?) apenas a ver filmes como este se pode alguma vez interessar por um épico de Griffith, um drama de Bergman ou uma comédia de Jerry Lewis? A resposta é simples: não pode. Porquê? Porque não sabe e, sobretudo, porque foi educado para não querer saber.

----------

Basicamente, é isto.

Quando Deus é Kubrick

Quando Ingmar Bergman morreu foi para o céu mas São Pedro não o deixou entrar porque Deus não gostava de realizadores de cinema.
Enquanto Bergman deseperava para entrar no céu, viu passar de bicicleta uma figura desastrada, de barbas fartas, algo obesa, vestida de calças manchadas e sapatilhas rotas.
Intrigado com tal personagem, Bergman perguntou a São Pedro:
- "Aquele ali não é Stanley Kubrick?"
São Pedro olhou para Bergman com olhar resignado e exclamou:
- "Não, é Deus. Mas pensa que é Stanley Kubrick!".

450

450 mil visitas e 450 seguidores. É bem.

"A Árvore da Vida" - Impressões breves


Só hoje vi "A Árvore da Vida" de Terrence Malick. Como não tenho tempo para dissertações longas (na blogosfera li autênticos ensaios teóricos sobre o filme), limito-me a expor as minhas impressões telegráficas:

- No cômputo geral, creio que é inegável que estamos perante um filme do qual emana uma sensibilidade muito peculiar e que desafia o olhar comum do espectador.
- Parece-me também óbvia a influência directa do universo estético e temático de Kubrick.
- Julgo tratar-se de uma obra que precisa de alguns anos de amadurecimento para perceber se se trata de uma obra-prima visionária ou de um filme pretensioso que se esgota da sua própria linguagem estética.
- Não me admira que o projecto deste filme tenha demorado mais de dois anos a concluir: a montagem deve ter sido um trabalho extremamente intrincado, complexo e meticuloso.
- A ambição do realizador em construir uma meditação visual sobre a vida, o universo, a morte, as relações familiares, a infância e o amor é desequilibrada. A título de exemplo: apesar de muito bem conseguida visualmente, julgo que a sequência da criação do universo deveria ter ficado de fora da montagem final.
- Apesar da fotografia do filme ser excelente (demasiado "perfeita", diria), há um exagero na utilização de imagens de estética "postal ilustrado": contém dezenas e dezenas de planos com o sol a brilhar com raios atrás de árvores, de edifícios e personagens. Parece que Malick se preocupou em demasia na beleza plástica das imagens em detrimento da história que acaba por não ter a devida profundidade narrativa e dramática.
- Há sequências maravilhosas, extremamente bem filmadas e montadas; outras há que são redundantes, confusas e pretensiosas. Fiquei com essa sensação dúbia no final.
- Percebo o alcance da visão mística e quase metafísica de Malick com a história central do filme, mas acaba por se tornar previsível e sem surpresas. Os últimos 10 minutos resvalam para uma certa confusão entre sonho, memória e realidade.
- O trabalho de mistura e edição de som é magnífico. Idem para a selecção musical, na qual não brilha apenas o compositor Alexandre Desplat mas também clássicos como Brahms, Berlioz ou o contemporâneo Ligeti. A música sempre foi um elemento fundamental em toda a obra de Malick.
- As interpretações são de grande nível, e não é só Brad Pitt que brilha no papel do pai autoritário com as crianças. Já a presença de Sean Penn me parece meramente comercial e subaproveitada em todo o filme. Creio que não tem sequer uma linha de diálogo em todo o filme, limitando-se a vaguear pelos cenários...
- Em suma, "A Árvore da Vida" é uma obra de grande fôlego visual, do tamanho da Humanidade, com um notável trabalho de realização, montagem e fotografia, mas que ainda assim, necessita de um segundo ou terceiro visionamento (daqui a algum tempo) para comprovar se supera as suas inerentes fragilidades (veremos se o tempo atenua ou amplifica essas fragilidades...).
- Concordo com a classificação que um amigo meu atribuiu: 7/10

O Rapaz e o Peixe


Luís Montanha é um jovem estudante de cinema que se encontra actualmente a finalizar a respectiva licenciatura. Como o dinheiro disponibilizado pela instituição onde estuda é pouco ou nenhum para apoiar a realização de um filme para o projecto final de curso, Luís Montanha não ficou parado e abriu uma página para divulgar esse mesmo projecto ("O Rapaz e o Peixe") e solicitar o apoio de quem quiser colaborar.
Para os interessados (nem que seja para conhecer o projecto), eis a página.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O hotel e o cinema


Os hotéis sempre foram espaços importantes no imaginário cinematográfico. Desde o Bates Motel de Hitchcock até ao Overlook Hotel de Kubrick, os hotéis têm sido objecto de muitas e boas histórias (dramáticas ou cómicas).
Neste Link encontramos 10 hotéis famosos (e reais) que serviram de cenário a outros tantos filmes.

Discos que mudam uma vida - 144


The Velvet Underground - "White Light/White Heat" (1968)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Entrevistas Póstumas (10) - Ian Curtis


O Homem Que Sabia Demasiado - Ian Curtis, 30 anos depois, a sua arte continua a fascinar gerações de amantes de música. Como explica isto?

Ian Curtis - Listen to the silence, let it ring on. Eyes, dark grey lenses frightened of the sun. We would have a fine time living in the night, Left to blind destruction, Waiting for our sight.

O Homem Que Sabia Demasiado - E o que me diz das suas letras plenas de negrume existencial, de deseperada lassidão emocional?

Ian Curtis - Heart and soul, one will burn. An abyss that laughs at creation, A circus complete with all fools, Foundations that lasted the ages, Then ripped apart at their roots. Beyond all this good is the terror.

O Homem Que Sabia Demasiado - Era considerado, nos Joy Division, o músico mais tímido e reservado. Como se tornou no líder carismático da banda?

Ian Curtis - Is this the role that I wanted to live? I was foolish to ask for so much. Without the protection and infancy's guard, It all falls apart at first touch.

O Homem Que Sabia Demasiado - A música dos Joy Division tornou-se na marca de uma geração e influenciou dezenas de bandas. Que sentimento e que responsabilidades isto lhe traz?

Ian Curtis - Walk in silence, Don't walk away, in silence. See the danger, Always danger, Endless talking, Life rebuilding, Don't walk away.

O Homem Que Sabia Demasiado - A sua viúva, Deborah Curtis, disse ter odiado o filme "Control" de Anton Corbijn. Que comentário quer fazer?

Ian Curtis - Confusion in her eyes that says it all. She's lost control. And she's clinging to the nearest passer by, She's lost control. And she gave away the secrets of her past, And of a voice that told her when and where to act, She's lost control, again.

O Homem Que Sabia Demasiado - Sei que tinha uma boa relação com a sua mãe. O que lhe diria caso a encontrasse?

Ian Curtis - Mother I tried please believe me, I'm doing the best that I can. I'm ashamed of the things I've been put through, I'm ashamed of the person I am.

O Homem Que Sabia Demasiado - A sua arte como músico e poeta foi construída segundo as suas próprias experiências de vida. Sente que as emoções, a vida e o amor são destruídos pela presença da rotina e pela certeza da morte?

Ian Curtis - When routine bites hard, And ambitions are low, And resentment rides high, But emotions won't grow, And we're changing our ways, Taking different roads. Then love, love will tear us apart again. Love, love will tear us apart again.

-------------------

Com esta décima e especial entrevista, termina a série de Entrevistas Póstumas.

Para ler as restantes nove, abrir aqui.

domingo, 26 de junho de 2011

A trip

Ron Fricke, ex-director de fotografia de Godfrey Reggio (responsável pela fantástica trilogia Qatsi), realizou o filme "Chronos" em 1985. Trata-se de uma possante meditação sobre o lugar do homem no mundo. O filme, em forma de documentário unicamente visual, percorre várias regiões do planeta para captar imagens da natureza em confronto com a actividade humana.
O excerto de vídeo de "Chronos" em baixo é, quiçá, o momento mais perfeito de todo o filme. Para captar toda a poderosa informação audiovisual, é imprescindível ligar as colunas de som e colocar o volume bem alto, para sentir a música que acompanha os 3'40'' de imagens frenéticas e assombrosas (até ao clímax final). Um claro exemplo de como a música e as imagens podem aliar-se de forma perfeita na experiência cinematográfica.
Há um comentário no YouTube referente a este vídeo que se adequa na perfeição: "What a trip!". E é disso mesmo que se trata.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O filme falado de Chaplin


E por falar em Charlie Chaplin, eis que a família do actor e realizador veiculou a notícia da descoberta (nos arquivos da família) de um projecto - em forma de argumento - que Chaplin tinha para fazer um filme falado, no qual pela primeira vez, se ouviriam diálogos (muito tempo antes de "O Grande Ditador", primeiro filme falado de Chaplin, em 1940). O filme em causa chamava-se "Bali", para o qual Chaplin terá escrito 50 páginas com diálogos falados.
Como se sabe, Chaplin foi um grande resistente na introdução do som no seu cinema - o filme "As Luzes da Cidade" é a prova disso, realizado 4 anos após o primeiro filme sonoro da história ("The Jazz Singer" de 1927).
A história foi revelada pelo jornal inglês "The Guardian" e reproduzido pelo espanhol "ABC". Link da notícia completa.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As imagens fortes de Cronenberg

Não esqueçamos que devemos a David Cronenberg algumas das imagens mais emblemáticas, perturbadoras e violentas de todo o cinema contemporâneo, sobretudo devedoras das suas primeiras obras dos anos 70 e 80:












quarta-feira, 22 de junho de 2011

Uma canção pop perfeita

Ouçam esta música e esqueçam que é de 1979.
Reparem na sua escrita de uma espantosa modernidade pop, perfeitamente actual. Gostariam os Animal Collective de escrever uma música com esta perfeição: o início em surdina, o crescendo de intensidade, o solo de guitarra, os devaneios vocais, a linha de baixo, o loop vocal final. Viciante.
Repito: corria o ano de 1979, no auge da new-wave e ainda hoje, "Complicated Game" continua muito à frente no vocabulário pop (há qualquer coisa de esquizofrénico e surreal nesta música).
Claro que os XTC se tornariam numa das bandas com melhores canções dos anos 80 e 90.

domingo, 19 de junho de 2011

Werner Herzog: dois livros

A propósito do livro do Chaplin (ver post em baixo), tenho em vista ainda a aquisição de dois outros títulos de um outro grande cineasta (muito diferente de Chaplin): Werner Herzog.
Um dos títulos, "Sinais de Vida", representa uma longa entrevista conduzida pela jornalista Grazia Paganelli sobre a vida e obra do realizador alemão.
Já o livro "Caminhar no Gelo" foi escrito pelo próprio Herzog sobre uma longa viagem a pé que se transformou numa viagem introspectiva.

Chaplin e as viagens pela Europa

Eis uma boa surpresa que encontrei na minha última visita à livraria Bertrand: "A Minha Viagem Pela Europa" (Almedina) de Charlie Chaplin. Trata-se de um diário do realizador acerca das suas viagens pela Europa após um esgotamento emocional e profissional nos EUA, a partir da década de 40 do século XX.
O testemunho em primeira mão aborda as experiências que Chaplin teve em vários países (França, Alemanha, Suíça, Inglaterra...) por onde passou para promover os seus filmes ou, simplesmente, para passar férias (acabou por fixar residência durante os seus últimos anos na Suíça, onde acabaria por morrer).

Discos que mudam uma vida - 143

Bauhaus - "Burning From the Inside" (1983)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nascer para o drama

No mundo da publicidade é necessário ser-se muito criativo para impactar o espectador com ideias criativas e originais. É o que acontece com este curto vídeo de apenas 52 segundos, realizado pelo jovem finlandês Rogier Hesp: nesta curta duração, conta-se uma história com princípio, meio e fim. E o final é absolutamente surpreendente e desconcertante: tanto pode provocar arrepios como pura diversão (ou um misto de ambos). Não admira que tenha ganho vários prémios.
O título do spot é peremptório: "Born to Make Drama".

Filosofia e cinema

Philosophical Films é um site que versa sobre filmes com conteúdos, mais ou menos óbvios, filosóficos. Filmes cujos argumentos exploram temáticas pertintentes da análise filosófica: ética, estética, moral, conhecimento, verdade, existência, morte, religião, etc.
Apesar da listagem de filmes ser algo desequilibrada (tem Bergman e Kubrick mas também "Saw II"!) e não ser particularmente extensa, o site apresenta bons textos de análise, artigos de professores e estudantes de filosofia, depoimentos de realizadores e sinopses sobre cada filme explorado (claro que qualquer cinéfilo minimamente informado dirá que faltam muitos filmes passíveis de análise filosófica).
Acaba por ser um manual interessante de informação útil para professores de filosofia que queiram (e saibam) recorrer ao cinema como poderosa ferramenta pedagógica nas suas aulas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Playtime #58


A solução: "The Truman Show" (1998) - Peter Weir
Quem descobriu: Silly Little Wabbit

A "realidade" da praia de Mangualde

Hoje a comunicação social fez eco da notícia da praia artificial de Mangualde, uma pequena cidade do interior do país a 100 km da verdadeira costa. A praia tem não sei quantas toneladas de areia, não sei quantas toneladas de água salgada e até possui um cenário de céu azul e nuvem a servir de horizonte.

Isto fez-me lembrar o filme "The Truman Show" (1998) de Peter Weir, com um soberbo Jim Carrey no papel de um malogrado homem que desconhecia viver num mundo de total ficção num contexto de reality show televisivo. A partir de um determinado momento, Truman desconfia da "perfeição" da sua aparente cidade e resolve conhecer o resto do mundo, apesar de ser dissuadido a tal pela sua alegada família. Então, num dia parte com o seu pequeno barco à procura desse novo mundo e, não sem espanto desesperado, bate contra um cenário gigantesco que representava o céu azul (na imagem). Aí toda a sua vida se desmoronou, e compreendeu que toda a sua vida tinha sido artificial, montada numa espécie de super-produção televisiva moderna da "Alegoria da Caverna" de Platão.

Ora, com a praia artificial de Manteigas, acontece um pouco do mesmo: a praia também possui os elementos aparentemente reais mas essa "realidade" desmorona-se quando olhamos para o horizonte: a praia tem montado um cenário praticamente igual ao do filme do Peter Weir. E há outra diferença significativa: enquanto que Truman desonhecia a grotesca realidade da sua vida e do seu mundo à volta até ter batido contra o cenário que o aprisionava, os turistas que usufruem da praia artificial, vêm do mundo real para um mundo artificial, de ficção, e de forma totalmente consciente.

E chegamos à questão eterna: a realidade imita a ficção ou é o inverso?

Entrevistas Póstumas (9) -James Dean

O Homem Que Sabia Demasiado - É um caso único na história do cinema: fez apenas três filmes e tornou-se rapidamente num mito da cultura popular.

James Dean - Nunca procurei ser um símbolo de uma geração, ainda que o filme "Rebeldes Sem Causa" (1955) tenha ajudado a tal. O realizador Nicholas Ray estava sempre a dizer-me que aquele filme iria transformar-me num símbolo de rebeldia juvenil, mas eu nunca quis, conscientemente, assumir tal destaque. A rebeldia da juventude nasceu com o Rock 'n'Roll na década de 50 e mais tarde com o fenómeno Hippie. Eu fui apenas um actor que fiz o melhor nos poucos filmes em que participei.

O Homem Que Sabia Demasiado - E que grandes filmes! O filme "A Leste do Paraíso" (1955) realizado pelo notável cineasta Elia Kazan, é talvez o filme em que "explode" como actor do método do "Actor's Studio" de Lee Strasberg. A sua magnífica interpretação como jovem incompreendido e angustiado, valeu-lhe quase a classificação de génio.

James Dean - Mais uma vez, julgo que é uma classificação desmesurada. É verdade que trabalhei muito para conseguir ter aquela interpretação natural, quase espontânea, com alguma improvisação à mistura. Porém, a direcção de actores de Kazan foi essencial para ter conseguido tirar o máximo de potencial das minhas capacidades.

O Homem Que Sabia Demasiado - No seu filme seguinte, "Giant" (1956), que estreou já depois de ter falecido no trágico acidente de carro, fechou uma espécie de triângulo magistral no universo da interpretação, numa ascensão que parecia imparável.

James Dean - "Giant" foi um filme do qual não gostei muito de participar, ao contrário dos dois anteriores. Durante as filmagens houve um clima constante de guerrilha de estrelas entre Elizabeth Taylor e Rock Hudson e o realizador, George Stevens, não conseguia dar um rumo ao filme, até porque houve sérios problemas financeiros e de produção.

O Homem Que Sabia Demasiado - É verdade que se dizia que Marlon Brando era o seu único rival no que dizia respeito a actores jovens e muito talentosos?

James Dean - Conheci Brando e gostava muito dele. Houve rumores que afirmavam que ambos tínhamos uma relação homossexual, mas era tudo fantasia da comunicação social. Mas respondendo à pergunta: havia outro grande actor que competia, se quiser, pelo lugar de "jovem actor talentoso": Montgomery Clift. Um actor de grande personalidade e potencial.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Buñuel e a religião: compilação

Luis Buñuel, que se dizia "ateu graças a Deus", foi um cineasta cuja filmografia reflectiu, de forma contundente, sobre os principais dogmas da igreja católica: a fé, o castigo, o pecado, a salvação, o papel dos padres na sociedade, as provas da existência de Deus, a Virgem Maria, a moral católica, entre outros. Ao longo dos seus filmes, desde o surrealista mudo "Un Chien Andalou" (1928), Buñuel introduziu no seu cinema inúmeros episódios sobres estes assuntos, não sem ter granjeado discussões e muita polémica.
Um jornalista espanhol, de nome Eloy Domínguez Serén, deu-se ao trabalho de fazer uma montagem minuciosa (18 minutos) contendo os momentos mais importantes dos filmes de Buñuel nos quais surgem retratados os temas de temática religiosa (quase todos de carácter controverso).
Uma espécie de compilação desses momentos deste realizador tido pela igreja conservadora como insolente e blasfemo. Neste link.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Talvez o melhor filme de Woody Allen


Revi o filme "Stardust Memories" (1980) de Woody Allen e confirmei uma ideia que já tinha há muitos anos quando o vi pela primeira vez: este é, porventura, o melhor filme do cineasta de Nova Iorque. Já se sabe que será sempre objecto de discussão eterna saber qual o "melhor" filme de Woody, mais a mais, tratando-se de uma filmografia tão rica.
Mas não tenho pejo em afirmar que, pessoalmente, "Stardust Memories" ficará sempre no topo da lista dos meus filmes preferidos de Allen, ao lado de "Manhattan" (1979), "Zelig" (1983), "Annie Hall" (1977) ou "Match Point" (2005).
Esta película de Woody Allen, cujo título português (não totalmente fiel ao original, como é habitual) é "Recordações", acaba por ser uma síntese de todo o seu cinema, quer em termos de conteúdo, quer em termos formais e estéticos: condensa todos os temas centrais da sua obra (a criação artística, as relações humanas, as questões existenciais, a morte, a religião, o amor, o desejo, o cinema, a arte...) e revela-se uma belíssima homenagem e citação ao filme "8 1/2" do mestre Fellini (fotografia a preto e branco, abordagem à fama fugaz das celebridades, a fogueira das vaidades do circo mediático, a solidão do artista, etc). E "Stardust Memories", apesar da sua propensão melodramática, tem algumas das tiradas humorísticas mais inspiradas de toda a carreira do realizador.
Ah, e não esquecer que, na sequência incial do filme, claramente "bergmaniana", surge, pela primeira vez no cinema, a actriz Sharon Stone:

domingo, 12 de junho de 2011

Clássicos do Cinema em BD para Pessoas com Pressa #25

Clicar para aumentar.

Um western povoado de aliens?

Hollywood já não sabe o que fazer para inovar em ideias cinematográficas e os argumentistas e produtores recorrem às histórias mais bizarras no ensejo de cativar novos públicos às salas de cinema. É o caso do filme "Cowboys & Aliens" de Jon Facreau ("Homem de Ferro") que irá estrear no final de Julho.
Apesar de ter um elenco de qualidade e de ser produzido por Steven Spielberg, "Cowboys & Aliens" parece-me uma proposta inconsequente e redundante que mistura dois géneros totalmente antagónicos nas suas próprias premissas. Nem vai recuperar o western como linguagem nem vai regenerar a ficção científica (também, não me parece que seja essa a intenção do realizador). Servirá, quando muito, como objecto de entretenimento fátuo de "balde de pipoca" na mão durante o Verão que se avizinha.
O verdadeiro cinema segue dentro de momentos.
(O que diria John Ford desta variante do Western que ajudou a elevar à condição de arte?)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Blu-Ray - canto do cisne?

Durante muitos anos o formato VHS era o único formato para ver filmes em contexto doméstico. Depois surgiu a qualidade da definição digital com o DVD que matou de vez o VHS. Entretanto, há uns dois ou três anos tem-se implementado, com muita lentidão, o formato Blu-Ray. Só que este formato, apesar do incremento de qualidade digital face ao DVD, não está a ser um sucesso a nível comercial. E suspeito que seja muito tarde que o Blu-Ray consiga destronar o DVD, pelo menos com a mesma rapidez com que o DVD destronou o VHS.

Para já, porque a pirataria continua a condicionar as vendas comerciais de filmes; depois, o Blu-Ray exige um leitor bastante mais caro do que um leitor de DVD; e por fim, porque cada filme em Blu-Ray custa o dobro ou o triplo do homólogo em DVD. E nos tempos de profunda crise económica que vivemos, este factor económico é determinante para o sucesso ou fracasso de um produto como este.

Por exemplo, acaba de ser editado no mercado o filme "Cisne Negro" de Aronofsky, disponível em qualquer Fnac. Quanto custa? 30€. E pensamos: 30€ para ter um filme que até já vimos em cinema?! Ou seja, só quem tenha boas condições económicas é que poderá fazer uma colecção de filmes em Blu-Ray.

E depois há outra questão: valerá a pena substituir os filmes que todos temos em DVD pelos filmes em formato Blu-Ray? Sinceramente, não me parece...
Resumindo: ou o custo de venda médio deste formato desce de forma considerável ou dificilmente subreviverá comercialmente.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O caldeirão da arte

Que artista sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar o surrealismo (egocentrista) de Salvador Dalí, a expressividade (temperamental) de Jackson Pollock, a provocação (pop) de Andy Warhol e as paisagens (melancólicas) de Edward Hopper?

Que compositor sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar a simplicidade (genial) de Erik Satie, a efervescência (rítmica) de Stravinsky, a exploração (tímbrica) de Edgar Varèse e o nacionalismo (musical) de Bartók?

Que realizador sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar a frieza (emocional) de Bergman, o humor (absurdo) de Groucho Marx, a violência (estilizada) de Sam Peckinpah e a perversidade (da carne e da mente) de David Cronenberg?

Que escritor sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar a verve (erótica) de Henry Miller, a visão (pessimista) de Schopenhauer, a loucura (desenfreada) de Ezra Pound e a placidez (contagiante) de Albert Cossery?

Que banda sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar a pop (decadentista) dos Tindersticks, o humor (cáustico) dos Butthole Surfers, a convulsão (sónica) dos Einstürzende Neubauten e o lirismo (noir) dos Dead Can Dance?

Que fotógrafo sairia de um caldeirão no qual se pudesse juntar a plasticidade (perturbadora) de Diane Arbus, a beleza (etérea) de Sebastião Salgado, a irreverência (sexual) de Robert Mapplethorpe, e a espontaneidade (histórica) de Robert Capa?

Bollywood


Há Hollywood e há Bollywood, a meca da indústria cinematográfica da Índia.

Desde sua origem na década de 1920, a indústria cinematográfica de Bombaim, conhecida como Bollywood, criou um negócio único com uma produção anual média de 500 filmes por ano. Uma enormidade, mesmo para um país com a dimensão gigantesca da Índia.

Os filmes de Bollywood desenvolveram uma linguagem visual muito especial, repleta de cores exuberantes e montagem muitas vezes frenética. Os posters, pintados antigamente à mão por artistas e designers, constituem um verdadeiro tratado visual e estético do cinema de Bollywood.

Os temas da grande maioria destes filmes radicam quase sempre na essência dramática de qualquer argumento romanesco: amores e desamores, conflitos familiares, eternas histórias de amizade e traições, vingança e também alguma violência.

Confesso que só vi uma vez na vida um filme tipicamente de Bollywood e não gostei da experiência. O meu gosto cinematográfico está longe do universo estético assumidamente kitsch destes filmes indianos. Bem sei que alguns cineastas ocidentais se têm deixado fascinar (e até influenciar) pelo cinema de Bollywood, mas a mim não me entusiasma minimamente.

Mal por mal, prefiro Hollywood...