sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Enquanto não vejo "O Mágico"...


Este é o filme que mais anseio ver neste final de ano e estreia esta quinta-feira em Portugal: "O Mágico" de Sylvain Chomet. Já tinha adorado o seu primeiro filme - "Belleville Rendez-Vous" (2003), e esta nova película de animação é ainda mais sugestiva pelo facto de se inspirar no universo do realizador Jacques Tati (assim como na sua personagem, o carismático e desastrado Sr. Hulot).
Enquanto não vejo "O Mágico" de forma a poder comentá-lo, relembro, a propósito de Tati, o que o cineasta francês referiu numa entrevista à revista Time, em 1958, data da estreia do filme "O Meu Tio" (na imagem), a propósito do paradoxo da modernidade:
"Vejam o que nos está a acontecer - esta especialização. A despersonalização está a tirar todo o significado humano à nossa vida quotidiana. Um homem costumava orgulhar-se da forma como conduzia. Agora um carro guia-se sozinho. Uma mãe costumava orgulhar-se dos seus bolos. Agora eles fazem-se sozinhos. Um rapaz costumava orgulhar-se das coisas que inventava para brincar. Agora está soterrado em brinquedos feitos em fábricas. É triste , não é?"
Essa é uma questão ainda premente na cultura de hoje: a de saber se a evolução tecnológica contribuiu, ou não, a despersonalização das relações humanas e, consequentemente, do sentido de liberdade individual. Um dos grandes críticos da sociedade tecnológica, Paul Virilio, admite que sim, que a tecnologia acabou por afunilar a liberdade do cidadão, derivado da vigilância electrónica do Estado em nome da segurança global.
Virilio critica também o uso da tecnologia em nome da evolução da sociedade, sem olhar aos efeitos colaterais nefastos que, potencialmente, produz no homem.
Claro que era impossível para Tati antecipar a grande revolução tecnológica de hoje (se até Bill Gates se enganou...), e o que ele criticava era, no fundo, as profundas mudanças de hábitos sociais dos anos 50 condicionados pela pretensa modernidade da mecanização da sociedade de consumo e de massas - desde o tráfego automóvel, o comércio, os pequenos utensílios tecnológicos domésticos, a arquitectura massificada das grandes cidades, etc.
Tudo isto condicionou um certo tipo de vida e de relações humanas, que sempre foram mais genuínas e espontâneas na sociedade pré-tecnológica.
Em relação à opinião de Tati propriamente dita, convém enfatizar o ano em que foi proferida: 1958. Nessa altura, a sociedade de consumo e da cultura massificada era um fenómeno crescente e real. E passados mais de 50 anos, só resta outorgar visão a Tati na sua feroz crítica ao excesso de tecnologia mecanizada na vida social contemporânea.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como é natal, um bocadinho de cataquese! Tu não existes!

MeuSom disse...

... não, não sei nem muito nem pouco, és tu que sabes demasiado...
:))) brincadeira

pois, eu concordo contigo, absolutamente.

Bom Ano Novo.