sexta-feira, 2 de julho de 2010

O "Efeito Kuleshov"


Na linguagem cinematográfica a montagem é uma técnica absolutamente essencial para dar coerência estrutural ao filme. A interligação e relação entre planos num filme é determinante para o resultado estético do mesmo.
Depois do avanço dado em 1915 pelo percursor David Griffith com a montagem paralela ("Nascimento de Uma Nação"), seriam os russos a desenvolver a montagem de forma definitiva. Serguei Eisenstein, Dziga Vertov, Kuleshov ou Pudovkin foram cineastas que exploraram todas as dimensões expressivas e comunicacionais da montagem.
Kuleshov não ficou na história como um grande cineasta, pelo menos ao nível de um Eisenstein ou de um Vertov.
A experiência ou "Efeito Kuleshov" (na imagem) é que deixou marcas, sobretudo ao nível da teoria da montagem, quando no iníco dos anos 20 fez a seguinte experiência: montou um grande plano expressivo do rosto de um actor com outro mostrando um prato de sopa; de seguida montou o mesmo plano do rosto do actor com um outro mostrando um caixão de criança; montou ainda um terceiro conjunto com o mesmo plano da cara do actor e um outro de uma mulher seminua em pose provocante.
Projectou então o conjunto final perante uma audiência, sendo unânime a opinião de que o actor era um óptimo actor, dado que expressava de um modo magnífico os sentimentos de fome (plano do prato de sopa), dor (plano do caixão de criança) e de desejo (plano da mulher seminua). Kuleshov mostrou que o significado de uma sequência de planos pode depender apenas da relação subjectiva que cada espectador estabelece entre imagens ou planos que, isoladamente, não possuem qualquer significação.
Parece uma conclusão óbvia para o espectactor contemporâneo, mas naquele período histórico de sedimentação da linguagem cinematográfica, revelou ser uma experiência que outorgou princípios expressivos e estéticos à técnica da montagem.

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