sexta-feira, 17 de abril de 2009

Este hype é justificado


Geralmente não costumo embalar nos hypes. Ou seja, desconfio sempre à partida dos fenómenos de bajulação crítica repentinamente excessiva face a um determinado objecto artístico. De um momento para o outro, os jornalistas culturais gostam de dar um destaque desmesurado a um músico, a um escritor ou a um realizador como a “next big thing”, a “revelação do ano”, e outros títulos sonantes. O último fenómeno jornalístico aconteceu no suplemento Ípsilon da semana passada, com o enorme destaque crítico dado ao grupo Micachu & The Shapes. Um grupo do qual nunca tinha ouvido falar, mas que o jornalista Mário Lopes resolveu classificar como a grande revelação da música pop actual e um dos candidatos a melhor disco do ano. É legítimo um crítico musical entusiasmar-se perante um objecto estético e ver nele uma lufada artística regeneradora no panorama musical contemporâneo (que bem precisa de abanões e subversões). Mas como disse no início, desconfio sempre destes entusiasmos desmesurados, porque já tive várias desilusões depois de conhecer as propostas.

A verdade é que desta vez não fui defraudado com as expectativas elevadas do jornalista Mário Lopes (até porque este projecto foi bastante elogiado por Björk e produzido por esse grande senhor da música electrónica que é Mathew Herbert): já ouvi o disco de estreia dos Micachu & The Shapes, “Jewellery” e, de facto, corresponde a essas altas expectativas. Não é uma revolução estética nem uma ruptura musical inovadora. Não é uma obra de arte insuperável. Mas “Jewellery” é um fabuloso disco de canções inclassificáveis feitas com uma sensibilidade rara para uma jovem com 21 anos – a idade de Micachu (Mica Levi, na verdade, figura do meio da foto), líder e vocalista do grupo.
Música de recorte experimental, ao mesmo tempo lúdica e séria, e que foge do formato canção convencional como do diabo da cruz - ruídos de máquinas, guitarras assanhadas, ritmos minimais, vocalizações bizarras. Há muita criatividade na cabeça dos Micachu & The Shapes, muitas ideias que só foram concretizadas porque são miúdos que absorveram o melhor da história musical das últimas décadas e tiveram uma formação musical vanguardista - a personaldiade musical que Micachu mais admira é o compositor e escultor sonoro Harry Partch. E está tudo dito: o hype justifica-se.

2 comentários:

Ana Pena disse...

Por acaso não fiquei nada impressionada com a Micachu :S e eu adoro Björk e confio quase cegamente nos seus gostos!enfim...

pedro polonio disse...

o Mário Lopes é um dos mais "confiáveis" jornalistas musicais do público... já não é a 1ª vez que me deixo "levar" pelas palavras elogiosas das suas críticas & sou agradavelmente surpreendido.