sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sobre a mortalidade


A morte continua um tema tabu na sociedade actual. Já pouco se fala da vida, quanto mais da morte, do acto de morrer com dignidade ou com sofrimento. Morre-se e pronto. Quem acredita num vida para além desta, ainda terá uma réstia de esperança na finitude terrena, quem não tem, resigna-se, como faz ironicamente Woody Allen quando diz: "a morte é uma das poucas coisas que podem ser feitas simplesmente deitando-se".
Enquanto que noutras culturas e sociedades, a morte é encarada de forma natural e sem traumas metafísicos, nas sociedades modernas as imagens da morte perturbam. Sejam em que formato for, a imagem da morte convulsiona e incomoda sensibilidades. Os valores sociais não estão virados para a preparação psicológica da aceitação da finitude terrena. Nem sequer as religiões (sobretudo judaico-cristãs), hipocritamente assentes na ideia de salvação divina após sofrimento e sacrifício terrenos. Ao contrário dos budistas, por exemplo, cujos ensinamentos filosóficos passam muito pela aceitação serena da ideia da morte durante toda a vida, como via para incremento da qualidade existencial do indivíduo. Não é assunto mórbido ou secundário. É uma interiorização profunda sobre a nossa condição humana.
Perante tais preconceitos numa sociedade massificada e do espectáculo, compreendo que a imagem deste post possa chocar. Trata-se de um trabalho fotográfico sobre doentes terminais - intitulado apropriadamente "Life Before Death" -, momentos antes (talvez horas) de morrerem. O fotógrafo capta o último suspiro do doente e, depois de morto, volta a fotografar aquele rosto que não é mais o rosto de um ser vivo. A duplicidade entre a vida e e morte parece coexistir pacificamente, porque ambas fazem parte do mesmo percurso, da mesma travessia. E aceitar a sua inevitabilidade ajuda a viver a vida em toda a sua plenitude. Ver link.

3 comentários:

::Andre:: disse...

Creio que há uns meses atrás houve uma exposição em Lisboa...

Miriam disse...

Nossa, tem gente para tudo. Não gostei.Antigamente, as famílias tinham o costume de fotografar o morto, no caixão, depois encomendavam cartões na tipografia e distribuiam para todos que haviam visitado.
Ainda bem que isto não se usa mais, era muito triste.
Um abraço.

tickets4three disse...

Espectacularmente perturbante.