segunda-feira, 16 de junho de 2008

A educação: Finlândia e Portugal


No jornal da RTP, a propósito dos exames escolares, vejo uma reportagem sobre uma conferência internacional em Lisboa cujo tema principal é a educação nos países desenvolvidos. Nessa conferência estavam representantes de vários países cujos sistemas de educação constituem um modelo de sucesso a nível mundial. Não apenas no aspecto estatístico (como parece ser a obsessão do Ministério da Educação português) mas também numa perspectiva do próprio sistema de ensino-aprendizagem, da qualidade do mesmo, da relação professor-aluno, da qualidade dos equipamentos escolares, etc.
Como não podia deixar de ser, a Finlândia, país considerado o mais evoluído em termos de educação, fez-se representar. Questionado pelo jornalista de serviço sobre quais as reais razões do sucesso educativo no país nórdico, o representante da Finlândia argumentou que é por causa da alta qualificação dos professores e do acompanhamento - desde o ensino primário (1º Ciclo do Ensino Básico em Portugal) - de alunos com dificuldade. Ouvi e achei a explicação demasiado simplista. Portugal também tem bons e qualificados profissionais de educação (também tem maus, é verdade, como em todas as profissões) e as crianças também têm um acompanhamento pedagógico desde que ingressam na escola. Ora, a realidade é que no sistema de ensino português continua a haver um elevado índice de abandono escolar, insucesso escolar, desmotivação profissional na comunidade educativa (alunos, professores e funcionários). Um abismo separa a Finlândia e Portugal em todos os índices de desenvolvimento. É impossível explicar o sucesso do modelo educativo da escola finlandesa apenas com os dois critérios apontados. É toda uma política diferente que está em jogo, uma filosofia de ensino que incentiva a criatividade, o empenho e o trabalho dos alunos. Os equipamentos escolares são muitíssimo mais bem apetrechados e organizados, possuem mais recursos, mais dinheiro, mais qualificação especializada, entre muitos outros aspectos que incutem dinâmica ao sistema. Para além disso, não esqueçamos um ponto fulcral: a Finlândia é um dos países mais desenvolvidos do mundo, onde o investimento na cultura, na vertente social, na educação, são traves mestras de toda uma sociedade.
Mesmo que Portugal conseguisse, a partir de hoje mesmo, implementar os mesmos critérios finlandeses de desenvolvimento, só daqui a duas ou três gerações é que teríamos resultados visíveis. Daí que o atraso português no domínio da educação é de várias décadas comparativamente com a Finlândia. Só.

3 comentários:

João Lisboa disse...

Ora, mas não jogam nada à bola, não têm Ronaldos, nem hordas de emigrantes a torcer por eles na Suiça... é verdade que também não têm emigrantes. Vendo bem, não têm nada. Como é que um país assim pode servir de modelo a alguém?...

Unknown disse...

Realmente...

José Magalhães disse...

Acho que o problema tem essencialmente a ver com a enorme desigualdade social e económica que se verifica no nosso país e que se reflecte na nossa população escolar. O fosso entre ricos e pobres, na Finlândia é muito baixo, enquanto que em Portugal é muito alto. Isto não tem influência directa sobre as crianças, no sentido das crianças não terem lápis ou livros, mas sim ao nível das expectativas sociais que se criam. Uma criança de família pobre,nunca ninguém espera nada dela em termos escolares (espera-se sim que saiba jogar à bola), e muitas crianças vivem de acordo com as expectativas que se criam nelas.