segunda-feira, 16 de junho de 2008

A angústia do guarda-redes antes do penalty


O Euro 2008 soma e segue. Ontem jogou-se o decepcionante Portugal-Suíça. No momento da conversão do penalty por Yakin, frente ao guarda-redes Ricardo, veio-me à memória um livro cujo título tudo tinha a ver com aquele momento. Refiro-me ao livro “A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty”, do escritor austríaco Peter Handke (na imagem). Livro que foi adaptado ao cinema pelo alemão Wim Wenders, filme que nunca tive a oportunidade de ver (apesar de grande admirador do cinema de Wenders). Mas o livro conheço-o bem. Li-o há mais de dez anos, numa edição de 1987 da Relógio d’Água.
Na altura recordo-me que o livro partia do universo do futebol para fazer um retrato da sociedade moderna. Ou seja, o futebol como metáfora da vida. O sucesso e o fracasso, o sofrimento e a alegria, a vitória e a derrota, a frustração e a excitação, a angústia e a ansiedade. Emoções que dominam o desporto-rei, tal como a vida. No fundo, a angustia causada pelo penalty (valha a verdade, tanto para o guarda-redes como para o futebolista rematador) não passa de uma metáfora da vida, de um espelho de duas faces. Todos nós podemos ser, a dada altura da vida, Joseph Bloch.
Peter Handke conta no seu livro - num escrita extremamente escorreita e quase visual - a história de Joseph Bloch, um canalizador que fora em tempos um conhecido guarda-redes de uma conhecida equipa de futebol. Um dia, sem nada o fazer prever, é despedido. Bloch começa então a deambular pela cidade, a frequentar hotéis decadentes e a conhecer personagens tão perdidas e solitárias quanto ele. Num dia, e sem motivo aparente, assassina uma amante ocasional e entrega-se à vida errante num mundo sem sentido. “A Angustia do Guarda-Redes Antes do Penalty” reflecte sobre um mundo onde essa mesma angústia grassa a todo o momento e se infiltra no meio de nós. Uma angústia existencial que transforma a realidade numa coisa baça e desprovida de sentido.

3 comentários:

José Magalhães disse...

Peter Handke um dia fez um poema, que era nada mais nada menos que a equipa inicial do nuremberga, que na altura tinha uma boa equipa.
De Peter Handke só li um livro dele editado pela Assírio e Alvim, "Poema à Duração", com um só poema bastante longo que fala desse sentimento de duração de que
Bergson também falava noutros termos. Fala de determinados lugares, que toda a gente tem (ou anda à procura, ou não sabe que os tem), aos quais retornamos sempre e que dão essa espessura à vida, essa duração.

Já agora devo dizer que me dá imenso gozo vir aqui comentar neste blog que considero uma espécie de blog gémeo do meu, pela partilha de um universo cultural muito semelhante. Um dia temos que beber um copo!

Unknown disse...

Quando se proporcionar, terei o maior gosto em beber esse copo!
Abraço,
VA

Red Dust disse...

Vi o filme. Um tanto ou quanto decepcionante por ser de quem é.