quarta-feira, 14 de maio de 2008

A arte de cortar e colar imagens




Na linguagem cinematográfica a montagem é uma técnica absolutamente essencial para dar coerência estrutural ao filme. A interligação e relação entre planos num filme é determinante para o resultado estético do mesmo. Depois do avanço dado em 1915 pelo percursor David Griffith com a montagem paralela ("Nascimento de Uma Nação"), seriam os russos a desenvolver a montagem de forma definitiva. Serguei Eisenstein, Dziga Vertov, Kuleshov (é célebre o "efeito Kuleshov") ou Pudovkin foram cineastas que exploraram todas as dimensões expressivas e comunicacionais da montagem.
Nos últimos 20 anos há um nome incontornável que domina a arte da montagem: Thelma Shoonmaker, montadora quase exclusiva dos filmes de Martin Scorsese. Ganhou três Óscares pela Melhor Montagem nos filmes "Touro Enraivecido"(1981), "O Aviador" (2005) e "The Departed" (2007). A capacidade de Shoonmaker em perceber a duração certa de cada plano, o rigor métrico e o sentido ritmo da montagem são características da melhor montadora da actualidade. No site mais abaixo referenciado podemos ver uma lista (das muitas possíveis) das 10 melhores montagens para cinema. Vale a pena ver com atenção o fluir de cada sequência e perceber a forma como cada montador/a estruturou essas mesmas montagens. Não faltam os clássicos incontornáveis ("Couraçado Potemkine", "Touro Enraivecido"...), mas é surpreendente visionar o filme referente ao primeiro lugar da lista. Dez exemplos maiores da arte de cortar e colar as imagens do cinema:

3 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo «post». E, santa ignorância a minha, nem sequer conheço o Kuleshov. Dá-me uma ajudinha?

Unknown disse...

Kuleshov não ficou na história como um grande cineasta, pelo menos ao nível de um Eisenstein ou de um Vertov. A experiência ou efeito Kuleshov é que deixou marcas, sobretudo ao nível da teoria da montagem, quando no iníco dos anos 20 fez a seguinte experiência: montou um grande plano expressivo do rosto de um actor com outro mostrando um prato de sopa; de seguida montou o mesmo plano do rosto do actor com um outro mostrando um caixão de criança; montou ainda um terceiro conjunto com o mesmo plano da cara do actor e um outro de uma mulher seminua em pose provocante. Projectou então o conjunto final perante uma audiência, sendo unânime a opinião de que o actor era um óptimo actor, dado que expressava de um modo magnífico os sentimentos de fome (plano do prato de sopa), dor (plano do caixão de criança) e de desejo (plano da mulher seminua). Kuleshov mostrou que o significado de uma sequência de planos pode depender apenas da relação subjectiva que cada espectador estabelece entre imagens ou planos que, isoladamente, não possuem qualquer significação. Parece uma conclusão óbvia para o espectactor contemporâneo, mas naquele período histórico de sedimentação da linguagem cinematográfica, revelou ser uma experiência que outorgou princípios expressivos e estéticos à técnica da montagem.
Saudações,
VA

Anónimo disse...

Agradecido pela lição. Agora já compreendo, até certo ponto, o meu desconhecimento. É que de Vertov, Eisenstein e Dovjenko sempre gostei muito (de Pudovkin nem tanto), e já estava pronto a lamentar essa grande falha.
Saudações.