quarta-feira, 16 de abril de 2008

A voz

Hoje é o Dia Mundial da Voz. Pouca gente saberá disso, e os que se lembram, pouca importância darão à efeméride. Mas a voz é deveras importante, nas mais variadas áreas, na comunicação oral e na expressão artística. Falar da voz na música é explorar um quase infinito universo de possibilidades expressivas ao longo da história da Humanidade. Desde os primórdios dos tempos que a voz serviu como instrumento musical e as formas de canto do mundo (desde o canto alentejano ao canto de tradição asiática) têm imensas ramificações e configurações estilísticas, estéticas e culturais. Por outro lado, no panorama da tradição vocal ocidental, muito haveria a dizer. E foquemos apenas o século XX: de Frank Sinatra (com o célebre cognome de “The Voice”) até às grandes vozes femininas oriundas dos mais variados género musicais como Maria Callas, Amália Rodrigues, Edith Piaf e às múltiplas experiências vocais levadas a cabo depois da segunda metade do século XX (com Joan La Barbara, Meredith Monk, Diamanda Galás, Fátima Miranda, etc, etc), outorgaram à voz humana uma dimensão criativa e expressiva única.
E quando falo em vozes, é inevitável não pensar nesse extraordinário projecto chamado Le Mystere Des Voix Bulgares, materializado num disco soberbo editado em 1990 (o 1º volume). Os cânticos polifónicos proporcionados pelas vozes búlgaras femininas constituem um documento fascinante da cultura tradicional da Bulgária (ainda que os arranjos tenham claramente uma roupagem contemporânea). As belas melodias, a síncope rítmica perfeita, a expressão tímbrica aveludada e a felicidade com que estas mulheres demonstram quando cantam, são sintomas de uma arte intrinsecamente ligada a um povo, a uma cultura. Há mistério e fascínio sem fim nestas vozes.

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