quarta-feira, 2 de abril de 2008

O cinema educa - parte 2


Já escrevi sobre a importância do cinema como recurso pedagógico. Não imaginava era que alguém pudesse levar ao extremo tal premissa. Aconteceu com David Gilmour (não, não é o guitarrista dos Pink Floyd) e o seu filho Jesse. David Gilmour (na imagem) foi crítico de cinema durante 15 anos num famoso programa de televisão. Percebendo que o seu filho de 16 anos não tinha aproveitamento na escola e que iria desistir de a frequentar, propôs-lhe uma proposta arriscada. Gilmour disse ao filho que podia desistir da escola, não trabalhar, e podia dormir até tarde, com uma condição: a obrigação de ver três filmes por semana juntamente com o pai. Foi a via que Gilmour desvendou para educar o filho - trocar os livros da escola pelos filmes.
Durante mais de três anos, pai e filho viram mais de 100 filmes juntos. É o próprio David Gilmour que defende: "sabia que o meu filho ia desistir da escola e eu antecipei-me. Um filme não pode educar no mesmo sentido que a escola, mas foi a única maneira que encontrei de lhe pôr factos na cabeça e de o fazer reflectir sobre o rumo da sua vida". O pai elaborou um plano de visionamento de filmes sobre cada tema curricular (geografia, história, ciência, desporto, literatura, etc). No final de cada filme, pai e filho discutiam sobre a estética e a mensagem de cada filme. Eis alguns exemplos de filmes que ambos viram juntos: "Os 400 Golpes", "A Lista de Schindler", "Apocalypse Now", "O Exorcista" ("com este filme Jesse aprendeu a superar os seus medos), "Casablanca", "Serenata à Chuva", "O Padrinho" ("com o filme de Coppola, Jesse compreendeu os perigos do sedutor submundo da corrupção"), etc.
Por último, David faz uma afirmação que dá que pensar nestes tempos conturbados da educação: "existe uma estranha epidemia no mundo ocidental. Jovens inteligentes, da classe média, estão a desistir da escola e a chumbar. A escola não atrai os jovens, e estes precisam de novos sistemas de ensino que os motivem, temos de pensar de forma ousada, como eu fiz". Este programa intensivo de filmes provocou em Jesse um renovado interesse pelo ensino formal, tendo entrado na universidade. Agora, aos 22 anos, Jesse Gilmour pretende ingressar numa escola de cinema em Praga e ser realizador.

Entretanto, leio na edição online do jornal espanhol El País que esse caso resultou em livro. O título é "Educado pelo Cineclube" e conta a incrível experiência de David Gilmour que educou o filho Jesse com filmes de Frank Capra, Luís Buñuel, David Cronenberg ou Oliver Stone. O livro está traduzido em 13 línguas. Esperemos que uma delas seja a portuguesa.
Para ler a reportagem na íntegra, ver aqui.

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